Tradução

domingo, 29 de maio de 2011

LORCA E DALÍ

Ode à Salvador Dalí 

 Frederico Garcia Lorca


Oh! Salvador Dalí, de voz azeitonada!
Digo o que me dizem a tua pessoa e teus quadros.
Não te louvo o imperfeito pincel adolescente,
mas canto a firme direção das tuas flechas.

Canto teu belo esforço pelas luzes catalãs,
teu amor ao que tem explicação possível.
Canto teu coração astronômico e terno,
de baralha francesa e sem nenhuma ferida.

Canto a ânsia de estátua que seus personagens sem trégua,
o medo à emoção que te aguarda na rua.
Canto a sereiazinha do mar que te canta
montada na bicicleta de corais e conchas.

Mas antes de tudo canto um comum pensamento
que nos une nas horas escuras e douradas.
Não a Arte a luz que nos cega os olhos.
É primeiro o amor, a amizade e a esgrima.

É primeiro o quadro que paciente desenhas
o seio de Tereza, a de cútis insone,
o apertado cacho de Matilde, a ingrata,
nossa amizade pintada como um jogo de oca.

Sinais datilográficos de sangue sobre o ouro
risquem o coração da Catalunha eterna.
Estrelas como punhos sem falcão te relumbram,
enquanto tua pintura e tua vida florescem.

Não olhes a clepsidra com asas membranosas,
nem a dura gadanha das alegorias.
Veste e desnuda sempre o teu pincel no ar,
ante o mar povoado com barcos e marinheiros.

Um comentário:

  1. Marta, um pincel desnudo diante de barcos e marinheiros... onde a vida floresce: livre expressar, o intar e o poetar entre as brumas do sonho e a ousadia do desejo.
    Abraços com carinho, jorge bichuetti
    hoje: postarei uma abusada homenagem, irreverente pelo estilo que ele talvez abominasse...

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