Tradução

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Poemeto português-franco-jê



A´uwê uptabi
 Para Tserê/Pour Tserê/ Aiwa Tserê


Xavantes
Geants
A´uwê
Xavantes
Savants
A´uwê
Il faut avancer
Wa´i
Il faut danser
Da-ño´re
A´uwê uptabi

Retratos de casamento e Retrato de uma princesa desconhecida


Retrato de uma princesa desconhecida

Sophia Mello Breyner Andresen

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Reais problemas escondidos por baixo das roupas

Maud  disse:
Pois é pois é Marta, tem tantos problemas mais importantes, né ! Valeu suas fotos e seus comentarios ! o mais chocante é que o que relata o artigo aconteceu na cidade onde trabalho, e sei muito bem dos VERDADEIROS problemas que tem nos establecimentos escolares... muito mais importantes, os alunos de 15 anos que não vem mais para aulas, a droga que circula, a falta de ajuda fora do tempo escolar para cumprir as tarefas escolares quando os pais não podem ajudar... emfim, verdadeiros problemas.. com consecuencias muito importantes para o futuro desses jovens





Marta disse:
Maud, escrevi o que escrevi. Mas pensando bem há também que se enfrentar esse debate das roupas. Por trás dele há reais problemas. É preciso desvendar o que se esconde: o neoliberalismo que é o sistema mais duro que já houve no mundo. O que os mandatários querem mesmo, ao proibir roupas e véus, é tomar os territórios, saquear os povos, roubar o petróleo, servilizar todo o planeta. Querem que todos digam Amém. Mas o mundo é vasto e não conseguirão acabar com o carnaval da vida. Alah meu bom Alah! E vamos lutar para que a educação seja melhor. Hoje sairam novos dados da educação no Brasil. Há 14 milhões de jovens com menos de 15 anos que não sabem ler e escrever....

Meiar

Como você
Sou tantas
E meias rosas
E meios
Meio tom
Meio tonta
Meio bruxa
Meio onça
Meio ave
Meio roça
E inteiras metrópoles
Que vou meiando com você
Em palavras meio doces, meio pedras
Seria mel se meiasse o beijo, o queijo, a lua, a meia, a rosa 


Tons Jorge Tom Jobim Tom Zé



TONS
                                Jorge Bichuetti

Angaturama poraybú
jepeá  ramó moryçaba
ramoin robebé; aê... aê... aê...

a vida segue seus rumos, diversos
caminhos e atalhos, cada um deve
encontrar seu tom  seus tons e vários 
buracos... coloridos tons, voos no espaço;
depois, é só deitar na rede e sonhar... e amar,
suavemente, enamorar-se de si e da vida,
enfeitiçado de bruxas e dementes que 
moram dentro da gente... inocentemente


Tom Tom Zé, nosso amor.


 
Hoje é sexta-feira. Todo dia é dia de Tons.
Tom Jobim. Mato que cresce, passarim, borzeguim.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

XAVANTES


Os Xavantes são um povo lindo. Guerreiros. Fortes. Inteligentes. Falam o Jê (que riqueza). Têm um artesanato que é uma beleza. Danças e cantos fantásticos. Rituais muito interessantes herdados de tempos imemoriais. Restam poucos Xavantes (em torno de 15 mil). E a maioria vive em situação de indigência no Mato Grosso. Completo abandono. Faltam em suas aldeias: comidas, médicos, remédios, panelas, fogão, água limpa, roupas e tudo que é básico para viver. Sobram: lixo, doenças, crianças morrendo (a maioria morre antes dos 10 anos de idade), moradias precárias, alcoolismo etc. Tragédia é o que vem acontecendo com essa brava, porém indefesa,  gente.


"O número elevado de mortes em aldeias indígenas de Campinápolis, no interior de Mato Grosso, levou o governo do Estado a decretar nesta semana situação de emergência no município.
Desde o início de 2011, 35 índios da etnia xavante morreram vítimas de doenças como diarreia e pneumonia."  



Não posso colocar uma imagem bonita dos Xavantes. Seria  uma hipocrisia. As fotos que coloco são as que melhor expressam o que se passa.

Médicine d´aujourd´hui et de demain

 

MALADES CE QUI VOUS ATTEND
Quelques reflexions sur la médecine d'aujourd'hui et de demain
Jacques-Michel Lacroix
Préface du Pr Bernard Debré


De quoi souffrirons-nous demain ? Après l'épidémie de grippe H1N1, faut-il craindre la menace d'une pandémie de "médiapathie" ? Dans les années à venir, où et comment serons-nous soignés ? Par qui ? Des paramédicaux ou des médecins ? Les malades et les médecins vont-il pouvoir conserver des relations basées sur des principes humanitaires, alors que la notion de profit envahit le domaine de la santé ?

A roupa e os nossos problemas

Maud querida, você fala desse debate forte que ocorre na França sobre as vestimentas das meninas no ambiente escolar. O estado regula, impondo que as islâmicas não usem suas tradicionais vestimentas (chador, burka etc) porque essas aviltariam a liberalidade francesa. Devem usar saias...  Enquanto isso as crianças francesas usam,  cada vez mais,   menos roupas (tangas) com a sexualização precoce do corpo.  

No Brasil, tem tido repercussão sim esse debate. Várias matérias sobre o assunto já sairam nos jornais e na TV há debates. Prós e contras É a tal da opinião pública se manifestando.  Opinião que não acaba mais em cima de perguntas que já têm respostas prontas. Chama-se  a essas perguntas de problemas. Nossos problemas.

Mas quem foi que transformou a roupa em  problema?   

Só somos livres quando livres para escolher os nossos problemas.

O Estado, os meios de comunicação, as famílias, a publicidade, as escolas e um montão de instituições (e pessoas) vivem nos dizendo: sejam autênticos, sejam vocês mesmos, desde que sejam como nós queremos.

Ontem eu escrevi aqui sobre moda. Superficilidades... Roupa é superfície.  Escrevi porque estou cercada por todos os lados de gente que discrimina as pessoas por causa de roupa, de aparência.  No meu meio, inclusive, é muito comum, infelizmente, as pessoas torcerem o nariz para as que gostam de usar umas roupitas mais transadas. Querem impor o uniforme?  SIM, É UMA QUESTÃO DE PODER. E de palpite infeliz.

Eu até que gosto de uniforme de aeromoça, mas não sou aeromoça. E as aeromoças só usam uniforme para trabalhar. O uniforme tem lá suas comodidades para a gente não ter que ficar a toda hora com aquela: com que roupa eu vou?  

Adoro mesmo a nudez e tomar sol no cu (já tomou? é uma delicia e faz um bem ao CORPO).  Mas quando vou ao samba ou tomar sopa, adoro a questão "com que roupa eu vou?"

Tomara alguém interessante me convide para um samba ou uma sopa.  Isso sim é uma questão: os bons e alegres encontros.

 Viva a liberdade de escolher os nossos problemas! E nossas roupas!




O progresso da técnica

Querida Maud, como você, penso (ajo) que devemos resistir e lutar contra a opressão, todas as formas de opressão, especialmente aquelas institucionalizadas que transformam as vidas em meias vidas, em vidas sufocadas, apartadas, obedientes, exploradas, tristes. Mas eu não creio que o progresso tecnológico em sim seja o responsável pela opressão.

O homem sempre desenvolveu técnicas para resolver seus problemas de existência, notadamente de sobrevivência: a fogueira,  a roda, o barco, a flecha, a casa, o fio, o rifle, o fone, a tv, o satélite, o rádio, a máquina de lavar roupa, o computador ...  A indústria não se opõe à natureza como quer o pensamento dualista. Ela é produção humana da natureza.  Toda produção técnica é social. A cada sociedade corresponde um tipo de máquina.  Penso que não se trata de ser otimista ou pessimista com o desenvolvimento técnico em si.  As relações sociais no capitalismo é que engendram e legitimam  o tipo de desenvolvimento e  de apropriação capitalista da técnica. 

O progresso social é possível, mas não está garantido.

Um exemplo da ambiguidade do discurso contra o progresso técnico. Ontem um amigo, doutor em ambientalismo, me telefonou do interior de São Paulo e na conversa veio a reclamação do progresso tecnológico. Mas aí eu o lembrei: o telefone que você está usando é um progresso técnico, quer quebrá-lo?

Não quis fazer um manifesto. Expressei um pensamento. Um pedacinho de pensamento.

beijo
Marta


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Chocante

Andando por aí, foi caindo a ficha, fui encontrando uma forte pista: a ética da crueldade para escapar das maldades, morbidades, perversões que nos povoam, assombram e enfraquecem. E o que é isso ética da crueldade?  É não viver na opinião. É provocar a violência no pensamento. É viver a vida e não salvar a vida (atenção para as precauções porque não é suicidário). É responder ao real. É algo que veio antes do homem. É uma micropolítica  de não prometer e sim correr o risco. É agir e não reagir. É o ovo cósmico que estou chocando. 


"... o começo partiu de Deus e de um casal, mas não o recomeço, que parte de um ovo, a maternidade mitológica é freqüentemente uma partenogênese. A idéia de uma segunda origem dá todo o sentido à ilha deserta, sobrevivência da ilha santa em um mundo que tarda a recomeçar. Há no ideal do recomeço algo que precede o próprio começo, que o retoma para aprofundá-lo e afastá-lo no tempo. A ilha deserta é a matéria deste imemorial, ou deste mais profundo."
 Gilles Deleuze - Causas e razões da ilha deserta

Tradução on line no blog no canto superior à esquerda da página

Maud está escrevendo em francês.  As ferramentas de tradução on line não são perfeitas, mas ajudam bastante. Pelo menos pra mim, é muito educativo ter um blog em duas línguas. E a tradução on line pode servir ao aprendizado de uma nova língua. A gente luta com a tradução,  é claro, não é só mandar traduzir e engolir, é preciso observar atentamente se há lógica etc.  E assim a gente aprende um bocado, inclusive sobre a própria língua.

De qualquer forma não é trivial ter um blog em duas línguas. É uma experimentação.

Aprender uma língua é sobretudo metamorfosear o espírito.

Precisar não precisa. Se é bom pra você, vá em frente. Senão, não. Vamos tirar essa urgência e pressão sobre todas as coisas.

O que se passa?

Suicídios de pessoas jovens, bonitas, ricas, famosas. 

Suicídios de trabalhadores da France Telecom.

Suicídio de alguns amigos nos últimos anos.

Eu queria ir para as montanhas ou praia e esquecer tudo isso. Mas não posso ou não quero pra valer sair de onde estou, pelo menos por enquanto.

Linhas de fuga suicidárias. Ok. Tenho a pista. Mas não é suficiente. Nada a interpretar.  Outra pista.

É bem provável que o suicídio ronde a gente pelo menos uma vez na vida, mas eu quero me afastar dessa. Apostar no viver, mesmo sabendo que a vida é um processo de demolição em certo sentido.  Mas observo velhinhos tão interessantes, sossegados e lindos. Sábios. Quero encontrar essa pista.

La mode des jeunes filles en france, sujette à controverse

Chère Marta, puisque tu le souhaites, j'écris en français !!
Deux articles récemment lus montrent l'état de confusion des mentalités en France et peuvent susciter, je pense, des débats intéressants.
Il y a d'abord le cas de lycéennes musulmanes qu'on convoque chez le proviseur car elles semblent avoir une tenue "non conforme" : http://blog.mondediplo.net/2011-03-20-Jupe-et-string-obligatoires, le tout au nom d'une laïcité douteuse...
et puis, il y a le cas de ces jeunes filles qui veulent déjà être des femmes dans leur tenue et leur allure, d'où une hypersexualisation de l'ensemble de la société...http://tempsreel.nouvelobs.com/actualite/societe/20110422.OBS1740/enquete-l-ere-de-l-enfant-femme.html
Confusion confusions ... mais où est le féminisme dans tout ça , et où est la sérénité pour discuter et argumenter ?!
Je me demande quels échos vont trouver ces articles au Brésil !!!

O que pode uma foto

Os homens vivem abandonando os filhos, comportamento considerado normal. Quando uma mulher  faz o mesmo,  é a malvada. Entrevista do ex-marido da Cibele Dorsa traz nas entrelinhas o recado: ela mereceu o destino que teve. A foto escolhida confirma o objetivo de estampar na moça a imagem da vulgaridade. O estereótipo de bonitona e sexy vai sendo transformado no de vadia e irresponsável. Parece que ela andava querendo mesmo desmanchar o rosto com a foto que escolheu para a capa do seu último livro. Mesmo assim, ainda é o rosto: muro branco buraco negro.


Mas afinal, o que se passou?


Espetáculo?

Moda

Pierre Cardin está no Brasil e diz que está à venda...  Quando eu era mocinha desejava muito ter uma calça jeans Pierre Cardin. Era uma espécie de subversão ter uma calça de indigo blue. Elas eram compradas no mercado negro porque importadas clandestinamente.

Turista Aprendiz.
Modelito de Ronaldo Fraga
 inspirado em Mario de Andrade
Gosto de moda, sem exageros, e cada vez menos. Mas continuo a olhar aqueles desfiles que apresentam roupas loucas. Os estlistas inventam cada uma....  Atualmente um dos que mais gosto é o Ronaldo Fraga e suas criações moda-literatura.  Tempos atrás vi o Herchcovitch ensinar costureiras a reciclar roupas.  Com  pedaços de peças velhas dá para fazer cada roupa bonita e criativa.

Portanto, nada contra a moda, a não ser a escravidão da moda e a escravidão na moda. Gostava de cortar o cabelo com um famoso cabelereiro, não porque fosse famoso mas sim pelo acerto do corte que ele me fazia. Até que um dia percebi que seu salão era chique para as freguesas mas senzala para os funcionários.

Enfim, até na moda há que separar o joio do trigo. Separando bem, a marca é o que menos importa. Um pretinho básico muitas vezes resolve a questão mas o vermelho tem seu lugar . Depende da dança... E por falar nisso, um café com Pina Bausch.

Nada, rien. Nothing de notícia boa

Bem que eu queria dar uma notícia boa. Li o jornal logo cedo e não achei nada nada nada. Inconformada com o nada,  busquei outras fontes mais generosas. Encontrei na Utopia Ativa um tantão de  boas. Então, chupei de lá esse poema brilhante, Nothing,  da Pagu Pagu Pagu mil vezes Pagu.


Nothing
Patrícia Galvão

Nada nada nada
Nada mais do que nada
Porque vocês querem que exista apenas o nada
Pois existe o só nada
Um pára-brisa partido uma perna quebrada
O nada
Fisionomias massacradas
Tipóias em meus amigos
Portas arrombadas
Abertas para o nada
Um choro de criança
Uma lágrima de mulher à-toa
Que quer dizer nada
Um quarto meio escuro
Com um abajur quebrado
Meninas que dançavam
Que conversavam
Nada
Um copo de conhaque
Um teatro
Um precipício
Talvez o precipício queira dizer nada
Uma carteirinha de travel’s check
Uma partida for two nada
Trouxeram-me camélias brancas e vermelhas
Uma linda criança sorriu-me quando eu a abraçava
Um cão rosnava na minha estrada
Um papagaio falava coisas tão engraçadas
Pastorinhas entraram em meu caminho
Num samba morenamente cadenciado
Abri o meu abraço aos amigos de sempre
Poetas compareceram
Alguns escritores
Gente de teatro
Birutas no aeroporto
E nada

Fusão de partidos por uns quebrados

A fome de poder quer se fundir com a vontade de comer pelas bordas. 
Aquele que tem o pé na cozinha e o coração no cofre da especulação conclama a união por "objetivos maiores".

O marketing e a ecologia

Maud comentou  meu post 6 bilhões de outros . Destaco as palavras dela :

"Sobre Yann Arthus-Bertrand, ele faz um trabalho muito bom, é verdade. Porém, que pena que o filme dele seja produzido por um milhonário que com certeza não se preocupa com ecologia e o desenvolvimento ambiental, o francês François-Henri Pinault, chefe do grupo PPR, que não hesita em deslocalisar as fábricas para países pouco respeitadores das normas ecológicas...  Mais informações em francês aqui. "

Merci Maud.  

terça-feira, 26 de abril de 2011

VILARRICACHAÇA

Ouro Preto, bateu forte hoje. Bate sempre esse vício de Vinício... e de ótimas lembranças da juventude.  

Ouro Preto é poesia, é buteco, é amor, é desamor, é confusão, é fogo, é procissão, é beata de mão em mão, é riqueza, é pobreza, é Maud que conheci lá, é nascente, é Angela Xavier, é história de assombração, é Zé Marques da Marielze, é memória boa e ruím, é centro histórico, é museu,  é periferia que turista não vê, é plano de revolução, é PAL saudade, é pedra, é passarinho, é água que passarinho não bebe, é tanta coisa e gente, é  confidencia e Inconfidência. 

É Vilarricachaça, do Sergio Sanches e André Castanheira, com poema e voz do PAL- Paulo Augusto de Lima.  


Ouro Preto

Visite Ouro Preto - MG e também o
em que sou colaboradora, postando temas muito diferentes dos que posto aqui, muito interessantes por sinal. Estamos no começo e muito assunto bom vai rolar por lá.




Notícia ruím, péssima... Continuam os suicídios na France Telecom

A gente pode imaginar que isso acontece muito por aí. O mundo do trabalho, apesar dos enormes e crescentes ganhos de produtividade, não melhora, piora. Trabalhamos mais e ganhamos menos. E as pressões são terríveis.  A mídia fala  tanto em bullying mas pouco fala das piores condições de trabalho na atualidade que provocam stress, sofrimentos, desesperos, mortes. Não debatemos o trabalho e o emprego!!!  Como se nada ocorresse... Mas ocorre e um sintoma disso são os suicídios de trabalhadores.  Na France Telecom já são mais de 50. Ontem, mais um.

Funcionário da France Telecom se suicida ateando fogo ao próprio corpo


Un salarié de France Télécom s'est suicidé par le feu


A história não acabou. A luta também.



MARLUI




Escrevendo Ana Miranda me deu saudade dos livros dela (vou escrever sobre Yuxin que começo a reler)  e da música da irmã dela, Marlui Miranda.  Tenho alguns discos da Marlui. Música dos índios. Queria colocar uma canção indígena cantada por ela, mas não tem, não encontrei na internet como eu gostaria. A Marlui é grande defensora dos direitos autorais dos índios (o que é muito correto)  e trabalha sério pela preservação e valorização desse rico patrimônio cultural.  Há alguns links em que podemos ouví-la.  Um deles, Rádio USP, Programa de Índio, com Marlui Miranda contando sobre o seu trabalho.  E há esse vídeo em que ela não canta música indígena mas canta a bela canção dos "caciques"  Vinícius de Morais e Edu Lobo, "Canto Triste". 
Como eu gosto de ser rádio do interior, daquelas que oferecem músicas, ofereço essa ao amigo, grande amigo, Jorge Bichuetti, amigo da vida índia e dos índios e de todos os povos massacrados, excluídos, desprezados pela modernidade de pedras duras.

Como era gostoso o meu francês/ Qu´il était bon mon petit français

A Maud conta que vai acontecer o 13o. Festival de Cinema Brasileiro de Paris e que o Nelson Pereira dos Santos vai estar lá, homenageado com o Jorge Amado. Me deu aquela vontade de ir passear ... avec mon petit français. Falo (e escrevo) mal o francês, mas me viro. Fica até gostoso, com sotaque caipira!!!



Guiomar de Grammont
 

Ana Miranda



Duas amigas nossas participam do Festival.  Des superbes femmes.  Guiomar de Grammont,  numa das mesas do Festival.    Ana Miranda,  nas telas de  "Como era gostoso o meu francês".  Ana ainda não era a  maravilhosa escritora que é (Boca do Inferno, Retrato do Rei, Desmundo. Dias e Dias, Yuxin/Alma etc.).





segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sabedoria milenar

Quando o amor e ódio estão ausentes, a vida é contente.


Essa frase me acompanha há muitos anos. É do Chuang Tzu. Poderia ser também do Spinoza e de muitos outros sábios. Na prática, só agora estou começando a entender o recado desses caros  mestres.  Mesmo assim  pergunto: é ísso mesmo?


Quand l'amour et la haine sont absents, la vie est heureuse.


 

Ôba! Daniel Lins em Sampa

Viajar para Paris é mais fácil do que ir até Guarulhos...  Mesmo assim , irei  lá com alegria e prazer para ver e  ouvir  o Daniel Lins que vai coordenar o Café Filosófico do Salão de Livros de Guarulhos 2011.

Ano passado, publiquei a  síntese de uma das palestras dele  nesse evento, Nietzsche e a apologia da beleza. Se der, farei a mesma coisa neste ano, pelo menos de uma das suas apresentações ou  de seus convidados.


Em junho vai ter o lançamento em São Paulo da reedição de Artaud - o artesão do corpo sem órgãos .  Pretendo fazer uma cobertura bacana desse lançamento, considerando que esse livro é muito importante para todos que querem CRIAR PARA SÍ UM CORPO SEM ÓRGÃOS.

Mais luz para Paris : o festival de cinema brasileiro vai começar !!

Minhas primeiras palavras nesse blog que emfim nasceu, graças ao entusiasmo de Marta, da sua obstinação a descascar minha preguiça !! Emfim esse projeito lindo vai viver, e vamos apresentar coisas que gostamos em portugues, em frances...
não tenho sua facilidade para escrever tanto, querida Marta, porem vou começar, pois tem que começar, né !!
daqui a oito dias agora vai começar o festival do cinema brasileiro em Paris, que sempre tem uma programação de qualidade, e faz descobrir muitos aspeitos desconhecidos do grande Brasil, em parte graças aos documentarios variados e bastante numerosos que são apresentados.
O site do festival ja é uma beleza, cheia de cores, de informações e recordações dos anos passados, tudo feito com uma equipe pouco numerosa e voluntarios simpaticos.
Para mais informações :
www.festivaldecinemabresilienparis.com/2011/por/index.htm
Esse ano temos muita sorte em Paris pois Nelson Pereira dos Santos esta de visita !!!!
Favor passar a informação !!!!!!!!!!!!

Regina Silveira

A revista CULT como sempre está ótima. Ontem a noite fui comprar cigarros (de palha!)  e levei a última edição com reportagem excelente sobre o Egito e o querido Nagib Mahfuz, dentre outras.

Destaque para a matéria com a  Regina Silveira, uma das artistas plásticas cuja obra mais admiro. E faz tempo que gosto das suas moscas, patas, equinox, mundos, sombras, desaparências  e "outras pragas" , muito antes desse sucesso todo que seu trabalho faz mundo afora.



Dizem que São Paulo é uma cidade feia. Alguns acham "a mais feia do mundo". Pode ser. Para mim não é bem assim... Gosto da vida na metropóle, apesar de tudo. E gosto por causa das pessoas que vivem  nas metropóles. Gosto das loucuras das cidades grandes, muito grandes. Loucuras saudáveis como a arte nas ruas. Por mais que seja famoso, um artista aqui é sempre um anônimo. E a arte dele acaba sendo nossa, de todos os anônimos. Acho que este vídeo mostra isso. Transit.



Se quiser ver mais, visite o site dela,
pois tem muito mais.
Sou assídua frequentadora desse espaço,
 é como uma escola de arte, das boas!

A cultura generalizada da crítica

A educação, a religião, as empresas, os meios de comunicação, os governos, os partidos, as organizações sociais, a cultura, os grupos de direita, de esquerda, os sindicatos    etc etc etc são terríveis tribunais e também escolas de formação de juízes. Tem sido assim, faz tempo. Começou lá na Grécia? Ou foi antes? Acho que o principal momento da constituição do tribunal generalizado foi no século XVII.  Me esclareçam melhor quem entende disso. De onde veio , eu não sei bem. Mas sei que isso não nasceu com o homem. Foi socialmente produzido. Podia ser diferente, é claro. Pode ser diferente.

O pior da generalização do tribunal é a internalização do juiz em cada um. Pedra dura de roer essa internalização da  cultura crítica. O outro nem pode dar um passinho diferente do que gostaríamos, e a gente já está pronto a julgá-lo, a criticá-lo. Ás vezes expressamos, outras vezes guardamos.  Mas o  sermão, o veredito,  está pronto, se tiver uma brechinha bota pra fora. Bom ou boa é aquele, aquela.  que nos obedece, que nos segue, que nos corresponde, que faz como a gente quer que faça, que veste como achamos de deva vestir, que pensa como a gente acha que é certo pensar, que escreva como a gente quer que escreva, que ama e faz sexo como a gente acha que deve ser feito.  Se for diferente, está errada, é fraca, está fora da linha, não tem sensibilidade, não é livre, não é esperta, não é iluminada  etc etc etc. Está errada pois atrapalha nossos projetos de construir imperiozinhos ou miliciazinhas, muitas vezes sustentados em discursos libertários. É preciso reconverter o/ extraviado/a ao rebanhozinho. Vigiar, censurar, resgatar as ovelhinhas... Aplaudir as reconvertidas, mas olho nelas porque as bichinhas podem escapar outra vez. E escapam. Quem uma vez se libertou do rebanho, vai tentar sempre sair fora dos novos rebanhos em que vai se metendo.

Tenho tentado me libertar desse inferno, dessa rabugentisse do tribunal do erro e da crítica. Claro a crítica tem seu valor. Por exemplo, a crítica ao capitalismo, ao neoliberalismo e a tantos ismos e porcarias. Mas, é preciso não confundir isso com crítica às pessoas. Estou mesmo mais interessada em aprender a admirar. Olhar mais para o que gosto e menos para o que não gosto. Falar e escrever mais do  que gosto, do que do que não gosto.  Descobrir no que não gosto, algo que possa gostar. Ver no erro, a potência, o que pode dar certo. Se rezo por alguma coisa,  é por isso: libertar-me  de todos os tribunais do erro e da crítica, dos meus e dos outros.

Não é simples, não é fácil libertar-se do julgamento. Estou tentando, mas fracasso tanto que na matéria abaixo, escrevi (mudei) que  é preciso "denunciar".  As palavras têm uma potência enorme para ordenar e ordenhar. Claro que essa potência deve ser usada para criar contra ordens por uma nova ordem social e política. Mas desconfio que se formos assertivos no apontamento do que nos potencializa, estaremos contribuindo muito mais.  Claro também que muitas vezes desconfio  da comunicação. Estou mesmo tentando encontrar um caminho de ação em que  CRIAR NÃO É COMUNICAR. Talvez por isso mesmo eu tenha dúvidas quanto a fazer blog. Esse blog mal começou e já está cheio de críticas.

A doença da medicina: a mercantilização

" A ideia de que tudo isso possa ser reduzido ao dinheiro – de que os médicos são apenas “fornecedores” vendendo serviços para “consumidores” de saúde – é, na verdade, doentia. E a utilização desse tipo de linguagem é um sinal de que alguma coisa deu muito errado não só com essa discussão, mas com os valores da nossa sociedade."

Paul Krugmann -  Pacientes não são consumidores

Nesse e em outros artigos, Krugmann tem questionado a mercantilização da medicina nos Estados Unidos. Que vozes como a dele se ergam em todo o mundo porque o processo de transformar a doença em fonte de forte enriquecimento e poder é global.  No Brasil, esse rolo ( sim é um rolo, mais que enrolado)  entre médicos, convênios, hospitais, indústria farmacêutica, escolas de medicina etc. já está para lá de avançado. Como diz um amigo, "está tudo contaminado".  A gente ainda encontra médicos decentes, mas são raros, pelo menos na minha experiência e nos  muitos relatos que ouço. Há que se fazer justiça aos médicos, instituições e nações que resistem a essa perigosa mercantilização da medicina. Porém, a maior justiça será feita quando todos os que a praticam forem questionados . É preciso questionar a  picaretagem. Sim, são picaretas, não passam disso.  Deixemos cada um de nós  de ser "paciente"  com  essa terrível doença. Que a medicina está doente, não há dúvidas.   

domingo, 24 de abril de 2011

Dias de Rosa

Há livros que circulam pela nossas mãos, pela estante, pela casa. Vou ler. Não, vou ler outro antes. Mais outro . Felicidade adiada. Comprei nas Lojas Americanas, pela internet. Meses depois fui buscar. No meio, viagens e outras leituras.  O atendente simpático, muito jovem, contou antes que ganha pouco demais, R$ 700,00 ,  apesar de falar inglês,  mas está feliz, tem trabalho, cartão de crédito, escapou da droga, da morte, da pobreza. Agora é classe média... E o livro? Não está, não encontrei. Como? Comprei, paguei. Mas a senhora demorou para vir buscar. Felizmente não me chamou de tia (bem educado o rapaz)  e procurou melhor. Achou. Levei para casa. Enrolei mais um tempão.  21 de abril, dia da forca, ou melhor, dia em que se comemora a morte na forca. Enforcada a liberdade. Tiradentes. Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria. Eu também. Para ler coisas gostosas, emocionantes que fazem a gente mais livre e mais libertário, da gente e dos outros. Liberdade ainda que tardia.  Li o livro num  dia. No Dia da Inconfidência. Na verdade, foi dia(s) de  Rosa. Um só dia que valeu por muitos. O livro não tem segredo. É simples. Mas é uma delícia. Educativo, educador. Autora, Rosa Dias. Eu já havia lido outras coisas dela e assistido ao belissímo filme que fez com o Julio Bressane, Nietzche em Turim.  Adorei esse filme. Adorei mais ainda NIETZSCHE EDUCADOR.   Mexeu comigo. Estava vivendo dias de covardia, com medo da vida. Mais uma vez Nietzsche acabou com esses dias de bobagem de medo. Não se pode ser covarde quando se sabe que Nietzsche existiu, educou, se educou, nos educa há  mais de um século. E educará por mais um século pelo menos, até que larguemos essa (des)vontade de fraqueza.   A Rosa me trouxe de novo o vermelho, sangue nas veias,  para viver dias e dias com vontade de mais vida. Torna-te o que tu és. Tornei-me.

Brilhante

Gabiroba
Guariroba
Goiaba
Pamonha
Arroz com feijão
Biju dos bons
Mexido
Tutu que pula
Quitandas mil
Fogão à lenha
Meninos, meninas
Éramos dez
Correndo, vivendo, comendo
No  Brilhante de Tupaciguara
Na panela da Geralda
Minha mãe
Nossa mãe
Pobre mãe
Doce ou salgado
Alimentadas as panças
Milagre da roça 
Labuta das mães

E eu agora, na metrópole
Perdida
Sem pai, sem mãe,
Sem irmãos, sem irmãs
Sem nada
Morando na filosofia
E lavando a louça
Nesse domingo de Páscoa
Sem galinha no quintal
Sem ovo
Em busca do novo
Brilhante


TOQUE-TOC ESQUI(Z)ITO

A mão vai lá onde não pode,
ferindo a ferida do rosto.
Pelo gosto do toque?
Pela mania da toc?
Ou será pela toc do toque?
Ou será pelo toque da toc?
O rosto deve ir ao esquizodermato?
Ou é a mão que deve ir ao esquizoanalista?
Ou será que os dois devam ir ao esquizodermatoanalista?
Perguntas esqui(z)itas, sem fundamento?
Ou serão as especialidades esqui(z)ofrenizantes?  

Passado

O mundo não para de se renovar. Viva a renovação e  o eterno devir! No entanto, há no passado, felizmente,  coisas, choses, educativas, engraçadas, saudosas, charmosas. Também a gente pode ver nelas certo ridículo do humano, demasiadamente humano. Educativas também por isso. Edith Piaf e Maysa, por exemplo, cantando  Hymne á l´amour/Hino ao amor.

L´accord poétique

Pour ne pas dire
Deleuze ou Guattari,
Guattari ou Deleuze,
Je dis aujourd´hui
Péguy ou Péguy.


Les amis dans le cyberespace

Chérie Maud, nous avons déjà deux amis à la suite de notre blog. Je suis heureuse de les avoir de partage dans ce voyage à travers le cyberespace. Ils sont des gens merveilleux et les deux sont de grands poètes.  Bienvenues  Jorge Bichuetti et Tania Marques.  

L´amitié éduque, ouvre et montre quelque chose.

sábado, 23 de abril de 2011

Conversações pela resistência

Querido Jorge Bichuetti, lendo seu Diário de Bordo hoje,   me veio o cheiro da gabiroba, os gostosos banhos no Rio Uberaba, as árvores e o céu do cerrado e tanta coisa da terra que me habita. Inocência perdida? Morte do charme e da simplicidade?  Nem sei mais... sei que percorro minha vida desde que saí do Triângulo e fico espantada com a crescente complexidade e violência do mundo. Nunca foi fácil para o povo, mas agora a coisa está para lá de complicada. Monetarização , tudo virou mercadoria, até a arte e a educação.

O que faremos? Pergunta complicada por um lado pois parece  que o beco é sem saída. Por outro lado, é óbvia a resposta: resistir. Resistir dentro e fora de nós. No espaço de dentro e no espaço social. Mudar o modo de pensar... é uma questão também cerebral como diz Deleuze. É a isso que chamo descer da cruz. Não se sujeitar ao dominante, ao pensamento dominante, pensamento platônico que impera nas mentes desde há 25 séculos. Isso não basta? Não basta, é certo pois há tantas urgências sociais como você aponta. Falando de Sartre, em "Ele foi meu mestre",  Deleuze mostra a grandeza do gesto do intelectual da subjetividade  frente às urgências sociais. O povo é a terra da filosofia.

"Falamos de Sartre como se ele pertencesse a uma época acabada. Mas ai! Nós é que estamos já acabados na ordem moral e no conformismo atual. Pelo menos Sartre nos permite uma vaga espera dos momentos futuros, de retomadas nas quais o pensamento se reformará e refará suas totalidades, como potência ao mesmo tempo coletiva e privada. É por isso que Sartre continua sendo nosso mestre. O último livro de Sartre, A crítica da razão dialética, é um dos livros mais belos e mais importantes surgidos nestes últimos anos. Ele dá a O ser e o nada seu complemento necessário, no sentido em que as exigências coletivas completam a subjetividade da pessoa." Gilles Deleuze
O que faremos? Ajuntar as pessoas, botar resistência e alegria ali, aqui e acolá. Combater a corrupção , corrupção do dinheiro e das almas. Reivindicar, reclamar. Criar alternativas de vida, trabalho, educação e cultura não capitalistas. Quais as nossas armas nessa guerrilha? A palavra e  o trabalho. Ou seja, a obra, pois a obra sempre cria caminhos entre as pedras.

Crianças tendo aulas em supermercado.
Mas isso não é deseducação? 
O Brasil tem tantas misérias,
 mas é o terceiro consumidor mundial
de produtos de higiene... 
Tudo que escrevi acima é o que você sabe , é o que você faz. Continuemos. Apostemos na potência da vida que resiste ao poder, que resiste ao marketing. O marketing é uma coisa muito séria pois ele é o principal instrumento da ordem vigente corruptora. E o marketing está em todos os lugares, inclusive na educação.  Em Sâo Paulo é comum  ver professores do ensino público "educando" seus alunos dentro de supermercados. Uma professorinha me esclareceu, com a inocência da ignorância: "estamos ensinando as crianças a se alimentarem e a cuidarem da higiene, elas não conhecem esses produtos que estão nas prateleiras". Crianças espantadas diante de tanta sedução. A que ponto chegamos? Na mais baixa, na mais terrível das misérias: as consciências formadas pelo marketing.

Precisamos fazer como Platão fez com os sofistas. Disputar a palavra. Desmoralizar a palavra marqueteira que, aliás, é plena de platonismo. Falar com os professores, com as crianças, com os trabalhadores, com os jovens. Conversações, guerrilha de pensamento.

Tenho falado com essas professoras que encontro nos supermercados e com todas as pessoas que encontro pela frente e que têm algum ouvido e boca para dialogar. Uma das coisas que tenho colocado: por que os supermercados vendem de tudo?  As grandes redes de supermercado destruiram e destróem milhares de postos de trabalho e de geração de renda melhor distribuída ao acabarem com as pequenas mercearias, com os açougues, com as floriculturas, com as padarias... O comerciantes de bairros e suas famílias transformam-se em empregados e desempregados das grandes redes de supermercados. Ficam  mais pobres, mais infelizes e mais servos do capital,  enquanto tornam-se cada vez mais bilionários os donos de supermercados. Veja só o Abílio Diniz, considerado por muitos , inclusive pelos seus empregados, como um líder, um grande exemplo a se seguir.  Não nutro ódio contra as pessoas, mas precisamos disputar a palavra com esses abílios e seu gerentes de marketing.

Parecem brincadeiras essas coisas que proponho frente à dinâmica de acumulação e concentração do capital. Mas elas são importantes mesmo porque convivem com outras dinâmicas dadas pelas próprias contradições do capitalismo. Travam-se  importantes  lutas dentro da dinâmica capitalista. Por exemplo, os sindicatos de trabalhadores lutam por melhores salários, isso é fundamental.

Alvaro Vieira Pinto apresenta neste livro,
publicado muitos anos depois de sua morte,
 em dois volumes,  importante
 relexão da tecnologia e subdesenvolvimento,
desmascarando, inclusive,
 a tecnologia enquanto discurso ideológico,
  pessimista ou otimista.
.
Outro exemplo. É decisivo que a sociedade brasileira abra os olhos para a disputa internacional  pelo petróleo e gás do Brasil. China ou Estados Undios? Qual vai levar a melhor? É o velho colonialismo mal reinventado.  Vendemos nossas riquezas minerais brutas e compramos os produtos industrializados. Como diz o Alvaro Vieira Pinto (no importante e pouco difundido  Conceito de Tecnologia), exportamos nosso ser e importamos nosso não-ser. Temos que parar esse movimento. Não se trata de xenofobismo, e sim de nos defender da sanha imperialista. Quase todas as nações produtoras de petróleo que não contam com indústria interna são, atualmente, palco de guerra e disputa imperialista. Derrubam-se governos em nome da democracia e do povo, que realmente deseja e luta por mudanças políticas de modo a melhorar suas  condições de vida, mas não nos enganemos, os grandes interesses agem para que as transformações lhes sejam proveitosas, exclusivamente.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Lágrimas de Pasolini *

Sexualidade liberada é  o que mais vemos atualmente. Liberada,  o que não quer dizer liberta e libertária.
Bate forte em mim o Pasolini. Assassinado não por ser liberado e sim  por ser  libertário.


Imagens de El Caso Pasolini, de Gianluca Maconi**

Mais de 35 anos se passaram desse brutal acontecimento  - que se repetiu e se repete, infelizmente,  tantas vezes contra a vida de pessoas, quase sempre com motivações homofóbicas ou ginofóbicas . De lá para cá, a coisa só piorou. A coisa ou o "algo"  que o próprio Pasolini foi incansável combatente: " o desejo ansioso e conformista transformou os jovens em pobres eretomaníacos neuróticos, eternamente insatisfeitos (precisamente porque sua liberdade sexual não foi conquistada, mas oferecida) e, portanto, infelizes.".

E não são só os jovens que padecem dessa neurose.  Bebendo uma única e preciosa cerveja num buteco, fui agredida por um sujeito também de cabelos brancos, daqueles  que se consideram o exemplo vivo de modernidade e liberalidade. Depois de receber um não  ao seu nojento assédio em que tentou me submeter ao seu poder fálico (e falido!), me agrediu duramente. Disse aos brados coisas do tipo "uma velha como você não pode escolher". Mais uma vez escolhi: saí do buteco e nele não volto mais. Era o único lugar em que me sentia a vontade para tomar uma cerveja sem precisar de acompanhante. Não existe mais esse lugar. Vou ter que inventar outro.

Tenho vivido diversas experiências desse tipo. Há quem diga (os moralizantes dos outros): "também, frequentando butecos..., só pode dar nisso". Mas eu digo,  como disse tantas vezes Pasolini: essas maldições acabam sendo verdadeiras bençãos pois elas alimentam em mim uma outra racionalidade não moralista, aquela que não descarta a paixão e a irracionalidade mas é incansável no combate aos irracionalismos anarquicos, desesperados e infelizes. Como  Pasolini, essa resistência não vem sem algumas lágrimas. "Lágrimas de nostalgia e de cólera". Nostalgia da elegância libertária. Cólera contra a  modernidade liberada, porém não liberta e não libertária, muitas vezes parafascista.

* Texto redigido como comentário no blog do amigo Jorge Bichuetti, aqui com pequenas modificações.
** Fonte:  O Grito .
As citações entre aspas são palavras Pasolini, extraídas do artigo: Pasolini: paixão e ideologia, de Michel Lahud, publicado em Os sentidos da paixão, Funarte/Cia. das Letras, 1987.