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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Carro blindado

Quando estudei economia na USP (terminei em  1984) quase nenhum colega tinha carro. Todos íamos e voltávamos de ônibus, até os ricos. Como fazia alguns cursos no período noturno, costumava pegar carona com um professor pois era tarde da noite e os ônibus demoravam muito. Mas não foi menos de centenas de vezes que sai tarde da escola e ia pra casa de ônibus e terminava a pé.  Nunca nada de ruím me aconteceu.

Alguns anos depois, trabalhei na USP e percebi a violência entrando no campus. Muitos carros nos estacionamentos e muitos assaltos nesses estacionamentos.  Meu filho estuda lá agora e vai de trem ou carona ou a pé. E digo pra ele: muito cuidado nos estacionamentos, você e os colegas, prestem atenção no mínimo movimento.  Os bandidos se escondem entre os carros e quando chega o dono do carro, pau.  Eles pensam, os bandidos, que quem estuda na USP é rico. E não é bem assim, mas a aparência de rico estuda na USP e em outros lugares.

Pois é, ontem na FEA, um estudante foi assassinado no estacionamento.  Ele tinha um carro blindado. Era um rapaz de classe média, mediana.  Não era rico. Mas tinha um carro blindado. Parecia rico.
O que fazer para conter a violência?  Tem muita coisa a fazer, quase tudo. Mas não é tendo carro blindado, nem tendo câmaras, nem tendo catracas.  A violência burla tudo isso.  Precisamos nos mudar, mudar a sociedade, mudar os valores, parar de cultuar a riqueza como único valor. Investir mais no coletivo (transporte coletivo, armários coletivos, dormitórios coletivos, restaurantes coletivos, solidariedade coletiva, vida coletiva etc. coletiva).

Meus sentimentos profundos pela morte desse jovem assassinado ontem no estacionamento de uma escola em que fui muito muito feliz num tempo em que havia poucos carros e nenhum computador. Ou melhor, havia o grande computador na Escola Politécnica onde levávamos nossos programas para processar, e íamos a pé pelo estacionamento.

2 comentários:

  1. Horivel... quando aparencia domina tudo...acontece o pior...

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  2. Marta, como dói tanta violência: já dizia Henfil - a guerra civil se instalou nas loucuras das ruas... Abraços e pela paz: revolução. Jorge Bichuetti

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