Tradução

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A cultura generalizada da crítica

A educação, a religião, as empresas, os meios de comunicação, os governos, os partidos, as organizações sociais, a cultura, os grupos de direita, de esquerda, os sindicatos    etc etc etc são terríveis tribunais e também escolas de formação de juízes. Tem sido assim, faz tempo. Começou lá na Grécia? Ou foi antes? Acho que o principal momento da constituição do tribunal generalizado foi no século XVII.  Me esclareçam melhor quem entende disso. De onde veio , eu não sei bem. Mas sei que isso não nasceu com o homem. Foi socialmente produzido. Podia ser diferente, é claro. Pode ser diferente.

O pior da generalização do tribunal é a internalização do juiz em cada um. Pedra dura de roer essa internalização da  cultura crítica. O outro nem pode dar um passinho diferente do que gostaríamos, e a gente já está pronto a julgá-lo, a criticá-lo. Ás vezes expressamos, outras vezes guardamos.  Mas o  sermão, o veredito,  está pronto, se tiver uma brechinha bota pra fora. Bom ou boa é aquele, aquela.  que nos obedece, que nos segue, que nos corresponde, que faz como a gente quer que faça, que veste como achamos de deva vestir, que pensa como a gente acha que é certo pensar, que escreva como a gente quer que escreva, que ama e faz sexo como a gente acha que deve ser feito.  Se for diferente, está errada, é fraca, está fora da linha, não tem sensibilidade, não é livre, não é esperta, não é iluminada  etc etc etc. Está errada pois atrapalha nossos projetos de construir imperiozinhos ou miliciazinhas, muitas vezes sustentados em discursos libertários. É preciso reconverter o/ extraviado/a ao rebanhozinho. Vigiar, censurar, resgatar as ovelhinhas... Aplaudir as reconvertidas, mas olho nelas porque as bichinhas podem escapar outra vez. E escapam. Quem uma vez se libertou do rebanho, vai tentar sempre sair fora dos novos rebanhos em que vai se metendo.

Tenho tentado me libertar desse inferno, dessa rabugentisse do tribunal do erro e da crítica. Claro a crítica tem seu valor. Por exemplo, a crítica ao capitalismo, ao neoliberalismo e a tantos ismos e porcarias. Mas, é preciso não confundir isso com crítica às pessoas. Estou mesmo mais interessada em aprender a admirar. Olhar mais para o que gosto e menos para o que não gosto. Falar e escrever mais do  que gosto, do que do que não gosto.  Descobrir no que não gosto, algo que possa gostar. Ver no erro, a potência, o que pode dar certo. Se rezo por alguma coisa,  é por isso: libertar-me  de todos os tribunais do erro e da crítica, dos meus e dos outros.

Não é simples, não é fácil libertar-se do julgamento. Estou tentando, mas fracasso tanto que na matéria abaixo, escrevi (mudei) que  é preciso "denunciar".  As palavras têm uma potência enorme para ordenar e ordenhar. Claro que essa potência deve ser usada para criar contra ordens por uma nova ordem social e política. Mas desconfio que se formos assertivos no apontamento do que nos potencializa, estaremos contribuindo muito mais.  Claro também que muitas vezes desconfio  da comunicação. Estou mesmo tentando encontrar um caminho de ação em que  CRIAR NÃO É COMUNICAR. Talvez por isso mesmo eu tenha dúvidas quanto a fazer blog. Esse blog mal começou e já está cheio de críticas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário